São Gonçalo é uma cidade que abriga uma vasta diversidade étnica, cultural e religiosa. Apesar de pouco sabido, esse extenso pedaço da Região Metropolitana do Rio de Janeiro foi berço de uma das religiões mais seguidas no Brasil: a Umbanda. Para contextualizar a história do seu nascimento no país e combater a intolerância, religiosos e especialistas planejam fundar o Museu da Umbanda ou MuseUmbanda, nos próximos anos, em solo gonçalense.
O projeto do MuseUmbanda surgiu em 2019, a partir da vontade de Fernando Torres, umbandista e Conselheiro Municipal de Cultura de São Gonçalo, de eternizar a história da religião, desde o seu surgimento, até os dias atuais. Além disso, o museu tem a proposta de repensar o racismo e a intolerância religiosa contra religiões de matrizes africanas, que persiste no Brasil desde a colonização européia.
“Eu sou nascido e criado em São Gonçalo e dentro da Umbanda, e sempre soube que a cidade tem uma dívida histórica com a religião. A casa onde a Umbanda nasceu em Neves, foi entregue à iniciativa privada e hoje é um galpão. Então temos uma dívida histórica com essa memória”, contou Fernando.
O primeira tenda Umbanda do mundo, chamada Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, foi criada em 1908 por Zélio de Moraes, no bairro de Neves, em São Gonçalo. No entanto, em 2011, o local foi demolido pela prefeitura do município e entregue a um empresário, que o transformou em uma loja de alumínio.
Segundo o Delmar Rodrigues, presidente do Conselho Nacional de Umbanda, “em 1910, o Caboclo das Sete Encruzilhadas havia previsto a demolição e deixado por escrito que isso aconteceria e alguns tentariam transformar a casa em um museu, porém a Umbanda não estava materializada na casa, e devia seguir em frente”. Hoje, a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade funciona em Cachoeiras de Macacu, na Região Metropolitana do Rio.
Assim, pensando em recapitular a narrativa e ainda servir como um instrumento pedagógico de combate às opressões, o museu será formado por cinco exposições permanentes. Entre elas, “Zélio e o nascimento da Umbanda”, “Intolerância Religiosa”, “O que é Umbanda”, “Outras Umbandas” e “Plantas que curam e protegem”.
O patrimônio cultural também contará com outras exposições temporárias que tenham como temática a negritude, religiões afro-brasileiras, história de São Gonçalo, religiões indígenas e intolerância religiosa. A previsão é que o museu seja inaugurado em 2023.
Primeiros passos do MuseUmbanda
Os planos e as metas do Museu da Umbanda será debatido em uma reunião agendada para esta quinta-feira (6), às 20h, na Tenda Espírita São Lázaro, no bairro do Pita, em São Gonçalo. No encontro será apresentado o projeto a todos os professores de museologia participantes, para que então seja iniciado o projeto técnico e busca de captação de recursos para construção do centro cultural.
Todo a discussão e planejamento do museu será apresentado a partir dos conceitos transmitidos no filme “Nosso Sagrado”, de Jorge Santana. O documentário investiga a perseguição e o racismo religioso contra o Candomblé e a Umbanda, que foram criminalizadas na Primeira República e na Era Vargas, quando mais de 200 objetos foram apreendidos pela polícia.
A partir da fala de religiosos, pesquisadores e militantes, os idealizadores do MuseUmbanda pretendem elucidar a importância do acervo sagrado afro-brasileiro, a luta pela sua libertação e os efeitos do racismo religioso. Telefone para mais informações (21) 99041-2843.
*Estagiária sob supervisão de Marcela Freitas
Fonte: Jornal O São Gonçalo