Venerado pela igreja, adorado pelos feiticeiros, respeitado pelos magos…
São Cipriano, bispo de Antioquia, passou para a história como um mártir e ganhou a fama como o mago mais conhecido do mundo.
Nascido no século III d.C., segundo a lenda, ele logo entrou para a irmandade dos magos depois de uma estadia entre os persas.
Na sagrada terra do culto do fogo, ele aprendeu as artes adivinhatórias e invocatórias.
Os ancestrais espíritos e gênios eram conhecidos por Cipriano, que mantinha contato freqüente com o Mundo Invisível.
Voltando para sua cidade natal, Cipriano começou exercer sua rentável profissão.
Logo adquiriu fama e era procurado por nobres, comerciantes e guerreiros.Certo dia um cavalheiro apaixonado pediu um feitiço amoroso, um “filtrum”, como chamamos em magia natural.
O alvo era a bela e jovem Justina, nobre virgem cobiçada por muitos ricos senhores.
Justina havia sido recentemente convertida a uma nova e estranha religião…
Seus seguidores adoravam um judeu crucificado da Palestina que tinha feito muitas curas e profecias.
Aos olhos dos antioquenos isso era até engraçado.
Por que adorar um homem, se existiam tantos deuses e gênios?
Cipriano preparou um filtrum e nada aconteceu.
O cavalheiro apaixonado reclamou e exigiu o dinheiro de volta.
Nosso mago, muito contrariado e não acostumado a falhar, refez a poção e adicionou um conjuro especial.
Nada!
Agora a coisa era para valer!
O Mestre Cipriano convocou o Rei dos Gênios em pessoa.
Dentro do círculo mágico ele ordenou e o terrível Jinn se fez presente.
O gênio explicou que Justina era serva de uma entidade de maior magnitude e nada poderia fazer…
Dito e feito.
Movido pela curiosidade Cipriano vai até Justina.
Estabelece uma rica conversa com ela e percebe na garota uma luz especial.
Dias depois, o poderoso Cipriano se convertia ao Cristianismo primitivo,
que nesta época era uma religião cheia de magia, sabedoria e simplicidade.
Afinal, o Cristianismo nascente era o herdeiro da religião dos velhos magos da Pérsia.
Não estavam os três grandes magos persas diante do menino Jesus na noite de Natal?
Cipriano e Justina morrem juntos durante a perseguição aos cristãos.
Séculos depois, curandeiros e benzedores europeus vão pedir a Cipriano, que virou santo, favores e saberes.
O culto de São Cipriano chegou ao Brasil com os degredados portugueses perseguidos pela Inquisição.
Na memória eles traziam as fórmulas, orações e magias ciprianas.
Bem mais tarde os primeiros “livros de São Cipriano” chegaram aqui.
Com a chegada dos negros escravos, os Mulojis (xamãs) bantus tomaram conhecimento da tradição do mago de Antioquia.
Boa coisa!
Na Kimbanda Cipriano era considerado um Makungu (ancestral divinizado) e digno de culto.
Em Angola os Mulojis já cultuavam Santo Antonio, que se encarnou numa profetisa bantu chamada Kimpa Vita.
Por isso, dentro do culto de Cipriano os xamãs botaram muitas mirongas e mandingas.
O tempo passou e a Kimbanda virou Quimbanda.
Elementos da feitiçaria ocultista e mesmo da magia negra penetraram nos ensinamentos dos sábios Tios e Tias africanos.
São Cipriano entrou nos mistérios da noite.
O respeito virou medo e assombro.
O santo ganhou Ponto Cantado, Riscado e Dançado.
Pulou do altar para o chão de terra, virou chefe de Linha e Falange, vestiu toga negra e até adquiriu um gato preto!
Na Lua Cheia de agosto ele tem festa à meia-noite, junto com a Comadre Salomé e os Compadres Bode Preto e Ferrabrás.
Até uma Fraternidade Mágica ele ganhou, quando Dom Fausto, um curandeiro,
encontrou um frade agonizando perto de um local desértico.
Examinando o doente, ele notou que o religioso fora mordido por uma venenosa serpente e estava à beira da morte.
Dom Fausto o carregou até sua casa e o curou com a ajuda de preciosas ervas.
Como agradecimento, o frade presenteou o curandeiro com uma velha cruz de madeira.
Noites depois, na pobre casinha de Dom Fausto, ocorreu um fato sobrenatural.
Uma estranha e misteriosa luz emanou da cruz, preenchendo todo o ambiente.
O curandeiro acordou e viu, ao lado da cruz iluminada, a figura de um velhinho barbado com mitra na cabeça.
O personagem que segurava um cajado, sorriu para ele e disse:
-“ Venho até você e peço…
Crie uma fraternidade de bons homens e mulheres, façam a caridade e curem em nome de Deus.”
O curandeiro, admirado, perguntou:
– “Quem é você?”
O espírito respondeu:
– “Sou Cipriano!”
Dias depois, Dom Fausto reuniu seus tios, alguns primos e contou o ocorrido.
Nasceu assim uma Fraternidade de cura sob a proteção de São Cipriano.
Isto aconteceu no século XVIII, em Dezembro de 1771.
Durante algum tempo o piedoso grupo só admitiu parentes.
Porém, segundo orientações espirituais, foram sendo convidadas pessoas de boa índole de outras famílias e procedências.
Por tradição uma cidade mágica era escolhida para sediar a Fraternidade.
O critério da escolha sempre foi motivado por estranhas leis estudadas na Radiestesia.
Paraty (RJ) foi a cidade escolhida, pois, além das condições telúricas excelentes,
ela é toda construída com sólido simbolismo maçônico.
Coincidentemente, a região também tinha forte presença kimbandeira e quimbandeira,
que com o tempo chegou até a receber os místicos cultos da Cabula e da Linha das Almas.
Hoje a cidade não fica por menos, já que conhecemos algumas irmandades de iniciados cabalistas,
templários e yogues que se estabeleceram por lá.
Na Quimbanda os espíritos de alguns pretos velhos de origem bantu se filiam na Linha de São Cipriano.
Estas são almas de antigos mandingueiros, feiticeiros (aqui com o sentido de xamã) e kalungueiros.
Todos mestres nas artes da cura e da magia.
Muitos até adotam o nome do Patrono:
Pai Cipriano das Almas, Pai Cipriano Quimbandeiro, Pai Cipriano de Angola…
Estas entidades recebem oferendas na kalunga pequena, perto do Cruzeiro.
Também são ofertadas nas portas das igrejas e capelas.
Oferendas: Velas brancas ou brancas e pretas, marafo, café preto e tabaco.
Uma Linha pouco conhecida, mas também ligada a São Cipriano, se chama Linha dos Protetores.
Neste grupo trabalham espíritos de velhos magos europeus, ciganos curandeiros e misteriosas entidades do fundo do mar.
São Cipriano está vivo e é do bem.
As receitas exóticas dos Livros de São Cipriano
(Capa de Aço, Capa Preta, Capa Vermelha, etc…)
jamais foram praticadas ou escritas por ele.
Elas são uma triste contribuição da magia negra européia.
Os segredos de São Cipriano passaram para os Mulojis da Kimbanda e
foram repartidos com alguns adeptos da Quimbanda.
Contudo, ainda existe o mistério.
Quais seriam estes segredos?
Como diz um velho Ponto Cantado de São Cipriano:
“Santo Antonio é mandingueiro,
Santo Onofre é mirongueiro.
Ai, ai, ai, meu São Cipriano…
Negro que sabe fazer bom feitiço,
Faz em silêncio, fala pouco e é quimbandeiro!”