A utilização do coco nos terreiros de Umbanda e Candomblé é uma prática amplamente difundida e de grande importância simbólica e ritualística. Essa tradição tem suas raízes na adaptação cultural e religiosa dos povos africanos e caribenhos, especialmente os cubanos, que devido à dificuldade de acesso ao obi (cola acuminata), passaram a utilizar o coco como substituto. Neste artigo, exploraremos a significância do coco nas oferendas e rituais, bem como seu papel no Oráculo de Biaguê e em outros contextos religiosos.
O COCO COMO SUBSTITUTO DO OBI
Nos terreiros, o coco é utilizado em substituição ao obi, um fruto sagrado utilizado em diversas práticas religiosas africanas. Os cubanos, por exemplo, desenvolveram o “Oráculo de Biaguê”, onde quatro pedaços de coco são utilizados para consultas divinatórias, substituindo os segmentos do obi. Esta adaptação não apenas demonstra a flexibilidade e resiliência das práticas religiosas afro-caribenhas, mas também a capacidade de integrar elementos locais à espiritualidade ancestral.
O coco, devido à sua popularidade, passou a ser conhecido como obí em muitos contextos, enquanto o obi verdadeiro é referido como obí-kola. Esse fruto é amplamente oferecido aos Orixás, Eguns, Exús e até mesmo a Ori (cabeça), desempenhando um papel crucial em muitas formas de borí (ritual de cabeça).
O MITO DE OBATALÁ E A DISTRIBUIÇÃO DO COCO
Segundo a tradição, Obatalá, o Orixá associado à criação e à pureza, é considerado o dono do coco. Um dos mitos mais significativos relata que Obatalá reuniu todos os Orixás sob um coqueiro para distribuir-lhes responsabilidades e hierarquia. Cada Orixá recebeu um coco partido aos seus pés, simbolizando sua conexão com Obatalá e sua aceitação das instruções divinas. No entanto, Obaluayê, inicialmente relutante, precisou ser convencido por Obatalá a aceitar as diretrizes, demonstrando a importância da paciência e da autoridade espiritual de Obatalá.
Este mito sublinha que todos os Orixás têm direito ao coco, sendo que o coco completamente descascado é uma oferenda exclusiva a Obatalá. Este ato simbólico reafirma a necessidade de oferecer coco em todos os rituais, honrando Eguns e Orixás antes de qualquer procedimento.
PROCEDIMENTOS PARA OFERENDAS DE COCO
Oferecer coco nos terreiros requer um procedimento específico para garantir que a oferenda seja adequada e respeitosa. Aqui está um guia detalhado para a preparação do coco para Eguns, Exús e Orixás:
- Seleção do Coco: Escolha um coco maduro e saudável.
- Rompimento da Casca Externa: Quebre a casca externa do coco e retire a parte comestível.
- Descarte da Casca Grossa: Descarte a casca grossa e mantenha a película fina que fica aderida à parte branca, exceto se a oferenda for para Obatalá.
- Corte em Pedaços: Corte a parte branca do coco em quatro pedaços de tamanhos equivalentes.
- Lavagem: Lave bem os pedaços de coco.
- Arranjo no Prato: Coloque os pedaços de coco em um prato branco, com a parte branca voltada para cima.
- Entrega da Oferenda: Arreie (ofereça) o coco aos pés do Orixá ao qual a oferenda se destina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso do coco nos terreiros é um exemplo vívido de como as religiões de matriz africana adaptam elementos naturais e culturais em suas práticas. O coco, com sua simbologia rica e múltiplas utilidades, fortalece a conexão entre os praticantes e os Orixás, garantindo que a espiritualidade e a tradição sejam preservadas e respeitadas. A preparação e oferecimento do coco são atos de devoção e reverência, essenciais para a harmonia e o sucesso dos rituais.
REFERÊNCIAS
SARACENI, Rubens. Fundamentos da Umbanda. São Paulo: Madras Editora, 2007. CUMINO, Alexandre. Rituais de Umbanda. São Paulo: Ícone, 2010. Linares, Ronaldo. A Tradição dos Orixás. São Paulo: Pallas, 2003. Povo Umbanda. “O uso do coco nos terreiros.” Disponível em: http://povo-umbanda.blogspot.com.br/.