Autor do quarto gol da seleção brasileira na vitória por 4 a 2 sobre a Alemanha, pela estreia da seleção brasileira masculina de futebol nos Jogos Olímpicos de Tóquio, o atacante Paulinho comemorou com um gesto simbolizando uma flecha sendo atirada. A celebração tem um significado profundo para o jogador: trata-se da flecha, ou ofá, de Oxóssi, orixá que o protege no Candomblé.
O escritor e historiador Luiz Antonio Simas explica que Oxóssi é considerado, para o Candomblé, o “caçador de uma flecha só”, além de um provedor, que traria da floresta a caça para alimentar a população. Dentre os instrumentos associados a cada orixá, o arco e flecha, ou ofá, é o que representa Oxóssi. Ele explica que, na religão, as danças relativas à entidade envolvem o movimento de arco e flecha.
— O mito mais famoso diz que em certa ocasião, ele salvou um reino tendo uma só flecha. Matou um pássaro enviado pelas feiticeiras para trazer a fome para aquele reino — diz.
Muito conectado ao Candomblé e à Umbanda, Paulinho, filho de Oxóssi, chegou a sofrer ataques de intolerância religiosa em suas redes sociais após comemorar a volta à seleção olímpica com a frase “Nunca foi sorte, sempre foi Exu. Laroyé!”. Firme em suas posições, Paulinho ganhou apoio e foi convidado para desfilar pela Mocidade Independente no ano que vem, em desfile que homenageará seu orixá protetor.
— Sou muito agarrado à minha fé. Minha família sempre teve muita conexão com o candomblé e a umbanda. Quando comecei a entender, gostei muito dessa filosofia de vida. Evito focar nesses comentários, que vêm da ignorância, da falta de informação — disse o atacante a Aydano André Motta, na série do GLOBO #nuncaésóesporte.
Para Simas, o gesto de Paulinho é importante no combate ao preconceito às religiões afro-brasileiras, e que emana representatividade na posição de um ídolo do esporte, em especial às crianças.
— É importante pela representatividade. A gente teve um avanço muito forte de designações neopentecostais que demonizam as religiões afro-brasileiras, e isso repercutiu muito no futebol. Quando um jogador faz uma comemoração dessas, evocando uma entidade do Candomblé que o protege, é muito bonito. Imagino uma criança de terreiro de Candomblé, que sofre um preconceito cotidiano por causa da religião, vendo um ídolo do futebol numa Olimpíada marcando um gol e fazendo a flecha de Oxóssi. É muito bonito.