Dia de Preto-Velho: conheça a história dessa entidade sábia e poderosa

Por João Bidu

No dia 13 de maio de 1888, Princesa Isabel assinou a lei de abolição da escravatura. Apesar da data ser marcada por esse acontecimento, a suposta libertação dos escravos é questionada até hoje, uma vez que não se preparou estrutura para que os negros escravizados pudessem sobreviver a uma sociedade racista, na qual a supremacia branca dominante esmaga, dia após dia, os direitos da raça negra.

Dia de Preto-Velho

Este dia representa alguns contextos históricos interessantes – na Umbanda, ele é comemorado como o dia de Preto-Velho. Os Pretos-Velhos são uma linha de trabalho de entidades dessa religião de matriz africana; são espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, que morreram no tronco ou de velhice, e que adoram contar as histórias do tempo do cativeiro.

Pai Antônio foi o primeiro Preto-Velho a baixar na Umbanda, por meio da mediunidade de Zélio de Moraes – teria sido um escravo em uma de suas encarnações. Foi também o espírito responsável pela inserção dos pontos cantados na Umbanda; enquanto esteve presente incorporando em Zélio Fernandino de Moraes, foi o responsável por grande número dos pontos criados.

O primeiro ponto de Umbanda nasceu logo na primeira sessão, quando Pai Antônio pediu seu cachimbo. Contando a história de sua passagem pela terra, ele explicou que, por ser um senhor de idade, não ia mais para o corte da lenha, mas quando foi buscar um feixe de lenha para a sua necessidade, se sentiu cansado, encostou no tronco de uma árvore e nunca mais acordou. Quando perguntado se sentia falta de alguma coisa, lembrou que o único bem pessoal que não pertencia ao senhor era o seu pito.

História dos Pretos-Velhos

Os africanos chegaram ao Brasil na condição desumana e cruel do tráfico de pessoas durante a escravidão. Pessoas negras de várias etnias foram sujeitas a viajar em um mesmo navio negreiro, em uma mistura forçada de Bantos, Congos, Angolanos, de Luanda, da Guiné e por aí vai. Destituídos de seus títulos por conta das guerras territoriais do seu continente, a população negra em nenhum momento foi fraca. Entre eles havia reis, rainhas, guerreiros e sábios, espalhados não apenas no solo brasileiro, mas por toda a Europa e Américas.

Quando chegaram ao Brasil, foram vendidos e escravizados. As mulheres tornavam-se amas de leite e cozinheiras na Casa Grande, enquanto os homens mais fortes eram tratados como reprodutores para manter a linhagem da escravidão. As senzalas onde viviam acabaram por se tornar o berço da resistência negra. Nelas, africanos das diferentes etnias eram obrigados a compartilhar um único ambiente, assim como nos navios negreiros.

Os senhores brancos acreditavam que o fato de não falarem a mesma língua e serem considerados inimigos em sua terra natal impediria qualquer motim ou rebelião. Mas não foi o que aconteceu. Os africanos, percebendo que independente do que eram em sua África Mãe estavam todos na mesma situação, pouco a pouco foram dialogando. Passaram a compreender e aceitar a cultura regional um do outro, seus costumes e crenças, achando semelhanças nas diferenças e tornando a união cada vez mais forte.

Aos poucos foram surgindo os levantes pela liberdade, os quilombos, as fugas. Muitos mantinham seu temperamento e sua fé e eram lenhados no tronco. Outros tantos davam guaridas e orientavam os mais fortes e jovens a buscarem o caminho para a libertação do povo. Assim, diretamente da resistência da população negra, surgem os Pretos e Pretas-velhas, entidades sábias, ancestrais, que voltam à Terra para guiar e amparar seus descendentes.

Fonte: Terra

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