Por Claudia Dias
Se você nunca se submeteu a um benzimento, certamente já ouviu seus pais e avós ou, ainda, familiares que residem no interior do país, comentando sobre o ritual. A prática milenar, passada de geração em geração, tem se “modernizado”.
Como explica Jacqueline Naylah, cientista bióloga, biopatologista, terapeuta holística, benzedeira e “curandeira da nova era”, benzer vem de abençoar.
“Os benzedeiros têm a missão de acalentar as dores físicas, emocionais e espirituais de quem deseja ser benzido, através do carinho, do amor, das palavras de conforto e da conexão com Deus, independentemente da religião”, descreve ela, que é autora do livro “Eu te benzo: o legado de minhas ancestrais” (Editora BesouroBox).
Entre os benefícios, o benzimento promete ser capaz de curar doenças, limpar cargas densas e negativas e, mais que tudo, oferecer acolhimento para tristezas e mágoas.
De acordo com Jacqueline, o ritual passa por quatro etapas:
- Oração: própria do benzedeiro ou que tenha sido adquirida na transmissão, entre gerações;
- Sinal: na maioria das vezes, é o sinal da cruz;
- Número místico: recebido pelo benzedeiro através de intuição;
- Ferramenta: há várias (como barbante, ramo de erva, carvão em brasa, faca, tesoura, entre outros), usadas de acordo com a condição a ser benzida.
O atendimento costuma ser rápido — dura apenas o necessário para que as quatro etapas sejam concluídas. “A quantidade de atendimentos é feita com base no ‘número do benzedeiro’. Por exemplo: se o número for 3, a pessoa irá 3 vezes para ser benzida”, esclarece a especialista.
Jacqueline afirma que qualquer pessoa pode ser benzida. “Talvez não seja curada mas, com toda certeza, irá compreender melhor suas dores e saber escolher, com mais clareza, o melhor caminho para tratar. Benzimento é luz!”, frisa.
Como ela argumenta, um benzedeiro sempre vai ter uma palavra de alívio e um grande entendimento sobre as dores do corpo e da alma. “É muito conectado à espiritualidade e tem uma ampla visão sobre diferentes religiões, sem estar preso a nenhuma delas”, diz.
Precisa repetir?
Quando a pessoa é acometida por alguma doença e acredita que o benzedeiro possa ser um caminho para a cura, sugere-se repetir o processo sempre que necessário. O mesmo é indicado para alguém que sente o corpo “carregado”.
“Mas é importante ter em mente que, na vida, podemos nos blindar com confiança e pensamentos positivos, para que não sejamos totalmente dependentes de benzimentos e rituais, a fim de seguirmos nossas vidas em total confiança e fé”, opina Jacqueline.
Não é preciso contato direto
O benzimento pode, inclusive, ser feito à distância, algo impensável até algumas décadas atrás. Nesse caso, é feito através de uma peça de roupa da pessoa a ser benzida ou de seus dados, escritos em pedaço de papel. “Deus sabe quem somos e apenas precisa do benzedeiro para promover esse entendimento e conexão”, argumenta Jacqueline.
A “contrapartida” de cada um é relativamente pequena: valorizar e confiar no ato. “A desconfiança ou a ingratidão interrompem o processo de cura”, ressalta a benzedeira.
Pagar ou não: eis a questão
O pagamento por um benzimento é tema de debate já que, para alguns, o ritual não deveria ser cobrado – antigamente, o benzedeiro recebia doações de quem o procurava.
“Existe uma diferença entre ‘cobrar por algo’ e ‘valorizar’. O trabalho dos benzedeiros, no passado, sempre foi muito valorizado. As pessoas da comunidade os idolatravam e, em cada atendimento, levavam algo em troca”, conta Jacqueline. Isso significava vaca, galinha, ovos, leite, tecidos, sal, ouro eram presentes comuns.
“Hoje, nossa moeda de troca é outra e passamos a enxergar o dinheiro como ‘algo negativo’, sendo que dinheiro é apenas dinheiro e que todo aquele que coloca seu dom a serviço é merecedor de uma vida abundante”, defende a benzedeira.
De onde vem a prática
O benzimento é um ato milenar, praticado em diferentes culturas. “Dentro das minhas pesquisas, encontrei povos benzedeiros originários de ciganos, indígenas, africanos, adeptos da antiga religião (wicca). Há relatos também de italianos e portugueses, que chamam o benzimento de ‘endireita’, como forma de endireitar as pessoas que não estão bem”, cita a estudiosa sobre o tema.
A bem da verdade, o ato de benzer mudou com o passar dos anos, sobretudo no que diz respeito ao entendimento das doenças. A terapeuta holística explica que, hoje em dia, os benzedeiros têm acesso a mais informações e saberes mais aprofundados.
“Os anos passaram e mais doenças foram desvendadas. É preciso uma alma de benzedeiro e um conhecimento sempre atualizado”, finaliza.
Fonte: Universa