A concepção da origem dos orixás não é a mesma em todos os cultos de Umbanda. Assim, por exemplo, para os Iorubas, ou nagôs, o culto dos orixás ou bacuros não é exatamente o das forças da natureza. Pensam eles que a maioria dos orixás era, em sua origem, seres humanos privilegiados que possuíam poderes sobre as forças da natureza e que, ao invés de morrer, se transformaram em pedras, rios, árvores ou lagoas.
Daí a grande quantidade de lendas nagôs sobre a vida humana dos orixás, à semelhança das figuras da mitologia grega e romana. Os orixás deixaram descendentes diretos, os quais, segundo Pierre Verger, continuam o culto dos seus antepassados divinizados.
Nota-se, entretanto, que a tese nagô de seres privilegiados, porém, humanos, que controlavam as fôrças da natureza, concorda singularmente com a teoria filosófica da existência anterior de homens que dispunham de domínio sobre os elementos naturais. É a hipótese da decadência da humanidade atual, que sucedeu a outra incomparavelmente mais forte sob o ponto de vista espiritual.
Roger Bastide interroga: “Em que medida esses antigos reis e feiticeiros divinizados viveram e existiram, ou são a projeção, no passado, de simples imagens estabelecidas pela religião?”
Nós, todavia, acreditamos firmemente que os orixás são imateriais, são espíritos de luz que nunca se encarnaram em seres humanos, que nunca tiveram existência terrena, e que se manifestaram mediante “aparelhos” de sua escolha, isto é, “filhos de santo”.
Trecho retirado do livro: As Mirongas de Umbanda