A Influência dos Espíritos em nosso Pensamentos e Atos

A influência dos Espíritos sobre os nossos pensamentos e atos é tão grande que, de ordinário, são eles que nos dirigem. Esta influência pode ser boa ou má, oculta ou ostensiva, fugaz ou duradoura. Em qualquer situação, fica claro que a influenciação se concretiza através da sintonia que se estabelece.

É conveniente recordar que”(…) pensar é vibrar, é entrar em relação com o Universo espiritual que nos envolve, e, conforme a espécie das emissões mentais de cada ser, elementos similares se lhe imanizarão, acentuando-lhes as disposições e cooperando com ele em seus esforços ascensionais ou em suas quedas e deslizes. (…)”

Não podemos descuidar da nossa casa mental e seguir, vida a fora, arrastados pela ação maléfica dos Espíritos atrasados. “Os Espíritos infelizes, de mente ultrajada, vivem mais com os companheiros encarnados do que se supõe. Misturam-se nas atividades comuns, perambulam no ninho doméstico, participam das conversações, seguem com os comensais, de quem dependem, em processo legítimo de vampirização…
Perturbam-se e perturbam.
Sofrem e fazem sofrer.
Odeiam e geram ódios.
Amesquinhados em si mesmos, amesquinham os outros.
Infelicitados, infelicitam”.

Já a ação dos Espíritos Superiores é outra. “Os bons Espíritos só para o bem aconselham (…)””(…) suscitam bons pensamentos, desviam os homens da senda do mal, protegem na vida os que se lhes mostram dignos de proteção e neutralizam a influência dos Espíritos imperfeitos, sobre aqueles a quem não é grato sofrê-la. (…)”

Tomando consciência de que “(…) o pensamento exterioriza-se e projeta-se, formando imagens e sugestões que arremessa sobre os objetivos que se propõe atingir (…)”, nada mais natural que se consiga harmonia e felicidade, quando a emissão mental for equilibrada e edificante; ou, aflição e quedas morais, se o pensamento for desequilibrado e doentio.

“(…) A química mental vive na base de todas as transformações, porque realmente evoluímos em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam conosco. (…)”
Podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos, (…) praticando o bem e pondo em Deus toda a (…) confiança (…)” e procurando repelir as sugestões inferiores e não atender aos maus pensamentos que geram a discórdia, as lutas antifraternas, o ciúme, a inveja e a exaltação do orgulho.
À medida que se perseverar no propósito firme de melhoria, através de desligamento do mal, a influência provocada pelas entidades inferiores dará lugar aos conselhos e sugestões edificantes dos benfeitores espirituais.
Pelo que foi dito, ficou patenteada a ação que os Espíritos exercem uns sobre os outros, sobretudo entre desencarnados e encarnados, estabelecendo-se, assim uma reciprocidade constante de intercâmbio. Daí, ser difícil, senão impossível, em determinadas ocasiões, distinguir um pensamento próprio de um que nos é sugerido. “(…) Geralmente, os pensamentos próprios são os que acodem em primeiro lugar. (…)” É o que consta na pergunta 461 de O Livro dos Espíritos; porém nesta mesma pergunta os Espíritos dizem não ser de grande interesse estabelecer a distinção entre um pensamento próprio e um sugerido, acrescentando até, que em muitas ocasiões, é útil que não saibamos distinguir.
Foi, evidentemente, compreendendo o valor desta questão que Kardec conclui:
“(…) se fora útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos pensamentos próprios dos que nos são sugeridos, Deus nos houvera proporcionado os meios de o conseguirmos, como nos concedeu o de diferenciarmos o dia da noite. Quando uma coisa se conserva imprecisa, é que convém assim aconteça”.
Intervenção dos Espíritos no Mundo Corporal

Caso 01

Quando reencontrei o meu amigo Custódio Saquarema na Vida Espiritual, depois da efusão afetiva de companheiros separados desde muito, a conversa se dirigiu naturalmente para comentários em torno da nova situação.
Sabia Custódio pertencente a família espírita e, decerto, nessa condição, teria ele retirado o máximo de vantagens da existência que vinha de largar. Pensando nisso, arrisquei uma pergunta, na expectativa de sabê-lo com excelente bagagem para o ingresso em estâncias superiores. Saquarema, contudo, sorriu, de modo vago, e informou com a fina autocrítica que eu lhe conhecia no mundo:
– Ora, meu caro, você não avalia o que seja uma obsessão disfarçada, sem qualquer mostra exterior. A Terra me devolveu para cá, na velha base do ganhou mas não leva. Ajuntei muita consideração e muito dinheiro; no entanto, retorno muito mais pobre do que quando parti, no rumo da reencarnação…
Percebendo que não me dispunha a interrompê-lo, continuou:
– Você não ignora que renasci num lar espírita, mas, como sucede à maioria dos reencarnados, trazia comigo, jungidos ao meu clima psíquico, alguns sócios de vícios e extravagâncias do passado, que, sem veículo de carne, se valiam de mim para se vincularem às sensações do plano terrestre, qual se eu fora uma vaca, habilitada a cooperar na alimentação e condução de pequena família… Creia que, de minha parte, havia retomado a charrua física, levando excelente programa de trabalho que, se atendido, me asseguraria precioso avanço para as vanguardas da luz. Entretanto, meus vampirizadores, ardilosos e inteligentes, agiam à socapa, sem que eu, nem de leve, lhes pressentisse a influência… E sabe como?
– ? …
– Através de simples considerações íntimas – prosseguiu Saquarema, desapontado. – Tão logo me vi saído da adolescência, com boa dose de raciocínios lógicos na cabeça, os instrutores amigos me exortaram, por meus pais, a cultivar o reino do espírito, referindo-se a estudo, abnegação, aprimoramento, mas, dentro de mim, as vozes de meus acompanhantes surgiam da mente, como fios d’água fluindo de minadouro, propiciando-me a falsa idéia de que eu falava comigo mesmo: “Coisas da alma, Custódio? Nada disso. A sua hora é de juventude, alegria, sol… Deixe a filosofia para depois…”
Decorrido algum tempo, bacharelei-me. As advertências do lar se fizeram mais altas, conclamando-me ao dever; entretanto, os meus seguidores, até então invisíveis para mim, revidavam também com a zombaria inarticulada: “Agora? Não é ocasião oportuna. De que maneira harmonizar a carreira iniciante com assuntos de religião? Custódio, Custódio!… Observe o critério das maiorias, não se faça de louco!…” Casei-me e, logo após os chamados à espiritualização recrudesceram em torno de mim. Meus solertes exploradores, porém, comentaram, vivazes: “Não ceda, Custódio! E as responsabilidades de família? É preciso trabalhar, ganhar dinheiro, obter posição, zelar por mulher e filhos…” A morte subtraiu-me os pais e eu, advogado e financista, já na idade madura, ainda ouvia os Bons Espíritos, por intermédio de companheiros dedicados, requisitando-me à elevação moral pela execução dos compromissos assumidos; todavia, na casa interna se empoleiravam os argumentos de meus obsessores inflexíveis: “Custódio, você tem mais que fazeres… Como diminuir os negócios? E a vida social? Pense na vida social… Você não está preparado para seara de fé…” Em seguida, meu amigo, chegaram a velhice e a doença, essas duas enfermeiras da alma, que vivem de mãos dadas na Terra. Passei a sofrer e desencantar-me.
Alguns raros visitantes de minha senectude, transmitindo-me os derradeiros convites da Espiritualidade Maior, insistiam comigo, esperando que eu me consagrasse às coisas sagradas da alma; no entanto, dessa vez, os gritos de meus antigos vampirizadores se altearam, mais irônicos, assoprando-me sarcasmo, qual se fora eu mesmo a ridicularizar-me: “Você, velho Custódio?! Que vai fazer você com Espiritismo? É tarde demais… Profissão de fé, mensagens de outro mundo… Que se dirá de você, meu velho? Seus melhores amigos falarão em loucura, senilidade… Não tenha dúvida… Seus próprios filhos interditarão você, como sendo um doente mental, inapto à regência de qualquer interesse econômico… Você não está mais no tempo disso…”
Saquarema endereçou-me significativo olhar e rematou: Os meus perseguidores não me seviciaram o corpo, nem me conturbaram a mente. Acalentaram apenas o meu comodismo e, com isso, me impediram qualquer passo renovador. Volto da Terra, meu caro, imitando o lavrador endividado e de mãos vazias que regressa de um campo fértil, onde poderia ter amealhado inimagináveis tesouros… Sei que você ainda escreve para os homens, nossos irmãos. Conte-lhes minha pobre experiência, refira-se, junto deles, à obsessão pacífica, perigosa, mascarada… Diga-lhes alguma coisa acerca do valor do tempo, da grandeza potencial de qualquer tempo na romagem humana!
Abracei Saquarema, de esperança voltada para tempos novos, prometendo atender-lhe a solicitação. E aqui lhe transcrevo o ensinamento pessoal, que poderá servir a muita gente, embora guarde a certeza de que, se eu andasse agora reencarnado na Terra e recebesse de alguém semelhante lição, talvez estivesse muito pouco inclinado a aproveitá-la.

Caso 02

Marques, o ex-presidente do templo espírita falava ao companheiro:
– Teremos assembléia geral depois de amanhã e estou colecionando os documentos. Veremos quem pode mais. Desmoralizarei os mandriões.
E Osório o amigo fiel, ponderava:
– Mas calma. O senhor foi presidente por muitos anos. Sempre respeitado. Sempre querido. Recordemos nossas reuniões. Nosso Dias da Cruz, que o senhor conheceu tão bem, quando neste mundo, prometeu ajudá-lo até ao fim…
– Sei que estou protegido – dizia Marques, beliscando, nervoso a barba branca -, mas vou colocar a coisa em pratos limpos. A diretoria foi tomada de assalto. É muita gente querendo transformar a casa em gamela gorda. – Marques, a ironia é veneno.
– Tenho fotocópias, retratos, informações e muito papel importante para mostrar o passado desses oportunistas. Todo o material será exibido na assembléia. Alguns desses companheiros transviados são passíveis de xadrez.
– Medite, Marques, medite! – pedia Osório. – O que passou, passou… Agitar o fundo de um poço é fazer lama.
Peça o amparo do Alto.
E, a convite do amigo, os dois se puseram em prece, rogando proteção espiritual.
Em seguida, tornaram à casa de Marques, onde Osório observaria como adoçar o calhamaço.
Ao procurar o libelo escrito, o dono da casa ouviu da arrumadeira, que entrara na véspera, a estranha explicação:
– Senhor Marques, todos os papeis que o senhor deixou espalhados nas cadeiras, com retratos e jornais, eu entreguei ao lixeiro, quando o caminhão da Prefeitura por aqui passou.
– Mas Deus! – gritou o velhinho, entrelaçando as mãos na cabeça, ante Osório sorridente – era serviço de oito meses!
E a jovem inexperiente replicou, sem saber que fazia a definição moral:
– Mas era muita sujeira!

Caso 03

Centralizando-se a palestra no estudo das tentações, contou Jesus, sorridente:
– Um valoroso servidor do Pai movimentava-se, galhardamente, em populosa cidade de pecadores, com tamanho devotamento à fé e à caridade, que os Espíritos do Mal se impacientaram em contemplando tanta abnegação e desprendimento. Depois de lhe armarem os mais perigosos laços, sem resultado, enviaram um representante ao Gêmio das Trevas, a fim de ouvi-lo a respeito.
Um companheiro de consciência enrijecida recebeu a incumbência e partiu.
O Grande Adversário escutou o caso, atenciosamente, e recomendou ao Diabo Menor que apresentasse sugestões.
O subordinado falou, com ênfase:
– Não poderíamos despojá-lo de todos os bens?
– Isto, não – disse o perverso orientador -; para um servo dessa têmpera, a perda dos recursos materiais é libertação. Encontraria, assim, mil meios diferentes para aumentar suas contribuições à Humanidade.
– Então, castigar-lhe-emos a família, dispersando-a e constrangendo-lhe os filhos a enchê-lo de opróbrio e ingratidão… – aventou o pequeno perturbador, reticencioso.
O perseguidor maior, no entanto, emitiu gargalhada franca e objetou:
– Não vês que, desse modo, se integraria facilmente com a família total que é a multidão?
O embaixador, desapontado, acentuou:
– Será talvez conveniente lhe flagelemos o corpo; criva-lo-emos de feridas e aflições.
– Nada disso – acrescentou o gênio satânico -, ele acharia meios de afervorar-se na confiança e aproveitaria o ensejo para provocar a renovação íntima de muita gente, pelo exercício da paciência e da serenidade na dor.
Movimentaremos a calúnia, a suspeita e o ódio gratuito dos outros contra ele! – clamou o emissário.
– Para quê? – tornou o Espírito das Sombras. – Transformar-se-ia num mártir, redentor de muitos. Valer-se-á de toda perseguição para melhor engrandecer-se, diante do Céu.
Exasperado, agora, o demônio menor aduziu:
– Será, enfim, mais aconselhável que o assassinemos sem piedade…
– Que dizes? – Redargüiu a Inteligência perversa. – A morte ser-lhe-ia a mais doce bênção, por conduzi-lo às claridades do Paraíso.
E vendo que o aprendiz vencido se calava, humilde, o Adversário Maior fez expressivo movimento de olhos e aconselhou, loquaz:
– Não sejas tolo. Volta e dize a esse homem que ele é um zero na Criação, que não passa de mesquinho verme desconhecido… Impõe-lhe o conhecimento da própria pequenez, a fim de que jamais se engrandeça, e verás…
O enviado regressou satisfeito e pôs em prática o método recebido.
Rodeou o valente servidor com pensamentos de desvalia, acerca de sua pretendida insignificância, e desfechou-lhe perguntas mentais como estas: “como te atreves a admitir algum valor em tuas obras destinadas ao pó? Não te sentes simples joguete de paixões inferiores da carne? Não te envergonhas da animalidade que trazes no ser? Que pode um grão de areia perdido no deserto? Não te reconheces na posição de obscuro fragmento de lama?”
O valoroso colaborador interrompeu as atividades que lhe diziam respeito e, depois de escutar longamente as perigosas insinuações, olvidou que a oliveira frondosa começa no grelo frágil, e deitou-se, desalentado, no leito do desânimo e da humilhação para despertar somente na hora em que a morte lhe descortinava o infinito da vida.
Silenciou Jesus, contemplando a noite calma…
Simão Pedro pronunciou uma prece sentida e os apóstolos, em companhia dos demais, se despediram, nessa noite, cismarentos e espantadiços.

BIBLIOGRAFIA
XAVIER, Francisco Cândido. Obsessão Pacífica. In:_.Cartas e Crônicas. Ditadas pelo Espírito Irmão X. 4. ed.Rio de Janeiro: FEB, 1979. Pags. 38-42
O poder das trevas. In:_.Idéias e ilustrações. Diversos Espíritos. 2.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978. Pags. 111-113.
VIEIRA, Waldo. Proteção espiritual, In:_.Almas em desfile. Ditado pelo Espírito Hilário Silva. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977. Pags. 32-33
Estudos Sistematizados da Doutrina Espírita – FEB – Programa I – Edição 1996
XAVIER, Francisco Cândido. In: Fonte Viva. Ditado pelo Espírito Emmanuel.
20 ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1995, lição 139, p. 312.
Fonte: Lar de Frei Luiz Br.

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