Um biólogo de Santos, no litoral de São Paulo, desenvolveu um projeto para reduzir os impactos ambientais causados por oferendas feitas durante cerimônias religiosas. Em entrevista ao G1, Pedro Augusto Trasmonte da Silva, umbandista de 29 anos, afirma que os resultados da ação, praticada no terreiro que frequenta, já mostram a mudança da conscientização ambiental dos fiéis.
Pedro explica que é praticante da Umbanda desde criança, no entanto, somente há cinco anos passou a frequentar um terreiro em Santos. “Antes, praticava em casa, era de uma Umbanda familiar. Há cinco anos comecei a frequentar o terreiro e percebi que era necessário mudar a visão da sociedade do que é um trabalho espiritual, que são as oferendas”.
Formado em Biologia e Gestão Ambiental pelo campus São Vicente da Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ (Unesp), Pedro afirma que percebeu que gostaria de mudar a forma de entrega das oferendas depois de perceber a quantidade de resíduos que são deixados após a realização dos trabalhos, como garrafas de vidro, latas de alumínio e objetos de cerâmica.
“Quando fazemos esses trabalhos, vamos à natureza para agradecer e buscar energia. Não fazia sentido para mim deixar uma garrafa na praia, em uma cachoeira, são elementos que poluem e prejudicam o meio ambiente que a gente quer agradecer. Então pensei em substituir para deixar de degradar a natureza sem perder a essência do trabalho”, explica.
A mudança, no entanto, acontece de forma gradual, conforme explica o biólogo. “São tradições de muitos e muitos anos, então a gente precisa começar aos poucos. Enviei a proposta ao meu terreiro e começamos por não deixar nenhum tipo de garrafa e lata na natureza”. Pedro aponta que, após a oferenda, todo o material artificial acaba sendo reciclado.
Para Pedro, a ação foi bem recebida pelos demais religiosos, que também se solidarizaram com a prática ambiental. Com o tempo, pratos de cerâmica começaram a ser substituídos por folhas de bananeira e materiais feitos de plástico foram deixados de lado, conforme explica o biólogo.
“A gente passou também a recolher os materiais artificiais deixados por outros terreiros. Tudo sempre com muito respeito, com muita licença, e a gente destina corretamente as garrafas, as latas. São tradições muito antigas, mas que aos poucos conseguimos sensibilizar as pessoas”, aponta.
Divulgação
Pedro explica, também, que além de projetos ambientais pontuais realizados no terreiro, o biólogo planeja a divulgação das ações sustentáveis junto às religiões de matriz africanas. “O fortalecimento dessa voz dentro do poder público é essencial para que possamos trabalhar essa sustentabilidade na nossa religião”.
Parte desse fortalecimento acontece em uma página nas redes sociais criada por Pedro. Batizado de ‘Cultive sua Fé’, o projeto do biólogo visa a divulgação de artesanatos e utensílios religiosos feitos com materiais sustentáveis. No entanto, Pedro também utiliza o espaço com mais de 2,7 mil seguidores para falar sobre a conscientização ambiental.
“Criei a página como um hobby, mas ela tomou uma proporção que eu não imaginava. Tenho planos de expandir esse espaço para a disponibilização de cursos que vão unir elementos da ciência e da fé. Mesmo com os filtros da minha religião, é um espaço para todas as pessoas”, finaliza.
Fonte: G1