Casas de candomblé e umbanda de Uberaba estão sendo reconhecidas como patrimônio histórico cultural do município. O projeto, iniciado pela Seção Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural (Sempac) em 2016, foi intensificado recentemente e busca valorizar e preservar as religiões com matrizes afro-brasileiras.
Segundo a Fundação Cultural, o objetivo geral é catalogar e ter uma estimativa da quantidade de espaços voltados para o candomblé e umbanda em Uberaba. Até terça-feira (23), mais de 20 casas receberam a placa de reconhecimento como patrimônio imaterial. Inicialmente, foram escolhidos os espaços mais antigos e tradicionais.
“O reconhecimento enquanto patrimônio imaterial das culturas do candomblé e umbanda é importante devido às raízes históricas que são levadas de nação em nação. É importante reconhecer religiosidade como patrimônio imaterial. Isso é a valorização da história”, afirmou o historiador da Sempac, Gustavo Vaz.
Uma das casas reconhecidas foi a Asé Tobi Odé Kolê, no Bairro Estados Unidos. Criado há 12 anos, o espaço é reconhecido nacionalmente pelos trabalhos religiosos.
“Ser reconhecido como patrimônio imaterial e utilidade pública, para nós, como matriz africana, é muito importante. É dar notoriedade a um legado deixado pelos nossos ancestrais. Isso quer dizer que, nós, enquanto comunidade de terreiros, precisamos ser cuidados, notados pelo poder público. Merecemos não só o cuidado com o espaço físico, mas também com a propriedade imaterial”, afirmou o babalorixá Vitor Oxóssi.
Preservação da cultura africana
Para a historiadora Maria Aparecida Manzan, essas religiões preservam a cultura afro-brasileira, a cultura dos orixás, das tradições vindas da África.
“O candomblé se adaptou às condições brasileiras, mas mantendo a integridade africana. Já a Umbanda nasceu no Brasil, com os escravos nos terreiros das casas grandes e nos cultos das senzalas. Nas fazendas, quando se cantava para outros santos católicos, os escravos cantavam também, mas seus cantos eram direcionados aos orixás e aos deuses africanos. Como os senhores não conheciam a língua que estava sendo cantada, eles achavam que os escravos estavam cantando normalmente para os santos católicos. Assim, foi perdurada essa tradição, mantendo essa religiosidade africana, porém Umbanda é afro-brasileira, totalmente criada no Brasil, pode até ter uma origem longínqua, porque os escravos vieram da África”, explicou.
Ainda de acordo com Manzan, a catalogação dessas casas é importante porque, em Uberaba, cerca de 60% da população é de origem negra. “É uma cidade que teve muitos escravos e tem muitos negros”, disse.
Fonte: G1