O objetivo deste texto é, de maneira simples e direta, demonstrar as diferenças existentes entre a Religião de Umbanda e a Religião de Candomblé.
Umbanda e Candomblé são religiões extremamente distintas. Claro, possuem alguns elementos em comum, como por exemplo a devoção aos Orixás, o uso de miçangas e atabaques. Entretanto, as diferenças são muito maiores do que as semelhanças.
Ressalta-se, porém, que essas diferenças não impedem o respeito que devemos ter com nossos irmãos Candomblecistas, assim como devemos respeitar as demais religiões. E começamos a respeita-los quando não usamos de seus elementos sem fundamento, sem conhecimento e sem preparo.
Infelizmente vemos por aí pessoas que, por ignorância, acabam colocando as duas religiões em um mesmo “panelão”, desvirtuando, ao mesmo tempo, as duas crenças.
Umbanda e Candomblé comparam-se ao Cristianismo e o Islamismo. Possuem fundamentos, ritos, visões, interpretações completamente diferentes. É impossível imaginar um Imam (sacerdote muçulmano) realizando um batismo em nome de Jesus Cristo. Ou, ao revés, um padre católico reverenciando Maomé. O mesmo se dá entre essas duas religiões afro-brasileiras.
Não se imagina um Pai de Santo da Umbanda fazendo raspagem e bori, dando iniciação no Candomblé a uma pessoa ou dando-lhe o título de Babalorixá. Assim como é inimaginável (apesar de existir casos, infelizmente), a realização de rituais de Candomblé com “entidades” de Umbanda no comando, para uma suposta iniciação na Umbanda.
Tais práticas são ultrajantes às duas religiões. As duas possuem seus próprios fundamentos e ritos, não havendo qualquer necessidade de serem mescladas.
As diferenças entre essas duas Religiões começam em sua base.
A Umbanda é uma religião brasileira, nascida em 1908, por meio do Médium Zélio Fernandino de Moraes e de seu guia, o Caboclo das 7 Encruzilhadas. É uma religião que, rompeu com o Espiritismo, apesar de trazer ainda consigo alguns de seus elementos, e absorveu também elementos das crenças indígenas, católicas e africanas.
O Candomblé, (apesar da forma com que conhecemos exista apenas no Brasil), é oriundo da junção das nações trazidas da África pelos escravos. Ou seja, tratam-se de cultos Africanos, dedicados aos Orixás, Nkises e Voduns (Ketu, Angola e Jeje). Dessa maneira, as cantigas, os rituais, as rezas e oferendas, são as mesmas utilizadas pelos ancestrais africanos outrora.
A Umbanda trabalha com espíritos, os quais são chamados de guias. São entidades que trabalham na energia do Orixá. São falanges de Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos, Boiadeiros, Ciganos, Marinheiros, Exus e Pombogiras. São essas as entidades que comandam a gira, que realizam os amacis, batismo, cruzamentos, etc. Além disso, tais entidades, dão passes, realizam curas, descarrego, falam e se utilizam de elementos como o fumo e o álcool.
No Candomblé não existe a manifestação de espíritos. Nessa Religião, os espíritos são chamados de Eguns, e são excluídos das chamadas rodas. (existem algumas casas que possuem o fundamento de Baba Egungun, ritual onde se manifesta os ancestrais). Todavia, o que se manifestas nas sessões de Candomblé são as energias dos Orixás. Tais energias fazem com que o iniciado, chamado de Iyaô entre em “transe”. Todavia, esse “transe” é bem diferente da chamada incorporação existente na Umbanda. Além disso, o iniciado quando manifestado pelo Orixá apenas dança seu ritmo. Não fala, não fuma, não bebe, não dá consultas, etc. Apenas chega, reverencia seus Babas e dança suas cantigas, nada mais.
Na Umbanda, os toques de atabaque são realizados com as mãos e são acompanhados por cantos em português. Ora, se nossas entidades falam o português, porque iremos chamá-las em outras línguas? Seria no mínimo, uma falta de respeito! O ponto cantado, nada mais é que uma oração cantada, devendo ser cantado com todo o respeito, sabendo o por que de cada palavra. São cantos de chamada, de reverência, de trabalho e de subida.
No Candomblé, os toques variam de acordo com a nação. Se for Ketu, os toques serão entoados com toques de varetas (Aguidavi), acompanhados por cantigas no dialeto Yorubá, língua daquelas divindades. Na nação Angola, o toque é realizado com as mãos, acompanhada por cantigas no dialeto Bantu. Na nação Jeje, os toques também são realizados com as mãos, e as cantigas são feitas em um de seus dialetos (Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc.). São cantigas que fazem referencias aos itans, ou seja, lendas sobre os Orixás, Nkises e Voduns.
A Umbanda trabalha com 9 Orixás, os quais estão distribuídos na chamada 7 Linhas de Umbanda. São eles: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Oxum, Iansã, Nana Buruquê e Obaluaê/Omulú. Vale lembrar que na Umbanda não existe incorporação de Orixás, mas sim, de espíritos e falangeiros que trabalham na sua energia.
O Candomblé Ketu, reverencia no mínimo 16 Orixás, chegando alguns há 21 e até 72 Orixás. Na nação Jeje e na Angola, os Voduns e Nkises também passam de 20.
O Candomblé Ketu trabalha com as chamadas “qualidades” de Orixás, como por exemplo, Oxalá que possui as qualidades de Oxalufã (velho) e Oxaguiã (moço).
A Umbanda não possui qualidades de Orixás.
O Candomblé possui suas cores e interpretações para os Orixás. A Umbanda possui outras cores e interpretações.
O sacerdote de Umbanda é chamado de Pai de Santo, Pai de Terreiro, Cacique, ou simplesmente Dirigente.
O sacerdote de Candomblé é chamado de Babalorixá, alguns possuem o título de Babalaô. As mulheres são chamadas de Yalorixá. Só podem utilizar esses títulos que de fato teve iniciação no Candomblé e passou pelas raspagens, boris, etc.
Esses são apenas algumas das diferenças. Como se pode perceber, as duas possuem uma estrutura, organização e rituais completamente distintos. Por isso nós, Umbandistas, devemos zelar pela pureza de nossa fé, evitando a introdução de elementos que não condizem com nossa religião. Assim também, os Candomblecistas, devem pregar a pureza de seu culto, evitando a mesclagem indevida e o desvirtuamento do culto milenar.