O Centro de Umbanda “O Barracão de Pai José de Aruanda” sempre prezou muito pelo conhecimento de seus membros, seja através de cursos e camarinhas para médiuns e frequentadores ou até mesmo um “catecismo” voltado para os mais pequenos. Sendo assim, a ideia de se montar uma biblioteca com títulos voltados ao nosso tema religioso caiu como uma luva.
Como surgiu a ideia?
Foi em meados de 2012 que surgiu o primeiro passo, uma doação de livros espíritas conseguida pela filha Ediana, livros que vieram de um centro kardecista, com muitos exemplares bem velhinhos e empoeirados.
A filha de santo Carla Alencar, que sempre teve papel atuante nos movimentos do terreiro, resolveu restaurá-los, catalogá-los e tentar começar um movimento entre os filhos da casa, estes alugavam os livros por um valor simbólico, o que propiciou verbas para começar a comprar novos títulos.
“Queríamos ter condições de comprar nossos próprios exemplares, que pudéssemos investir em livros de nossa própria religião, mais específicos, já que na época nossa única “Bíblia Sagrada” acessível era o livro Umbanda de Barracão, de autoria de nosso Babá, que sempre foi o livro mais procurado até então” comenta Carla.
Um dos maiores entraves era a organização e o controle das locações, pois não existia ainda um computador e tudo era feito à mão, em folhas de caderno. Uma das filhas que ajudou bastante nesta fase foi a Giane Marques, ela comenta que não é fácil organizar uma biblioteca no terreiro, uma vez que o tempo para atender os sócios é pequeno, somente no dia dos trabalhos e nos momentos que antecedem o início da gira, dessa forma, é preciso dedicar dias paralelos para conseguir dar conta do recado.
As doações de tempo, esforço e livros não pararam por aí.
“Pouco mais de dois meses depois da primeira doação, a Ana Correa indicou o nosso terreiro para um centro espírita que estava fechando as portas e foi aí que, com a doação de mais livros espíritas, juntamos uma média de 450 livros na biblioteca. Se não tivéssemos feito uma doação recente dos livros mais voltados para o kardecismo, era para estarmos com mais de 600 livros” completa Carla ao mencionar mais uma grande colaboração.
Com o movimento da biblioteca muitos filhos passaram a colaborar, seja com doações ou com mão de obra, fazendo com que o volume aumentasse significativamente, seria difícil citar todos que ajudaram nessa matéria e correríamos o risco de deixar alguém de fora.
Para finalizar fizemos a seguinte pergunta para a filha Carla Alencar:
O que você diria para uma pessoa que queira fazer a mesma coisa pelo seu terreiro?
Resposta: Diria que é primordial a gente ter um maior entendimento sobre a religião, é claro que nossos amados guias espirituais nos ensinam e muito, mas devemos sim, ter um conhecimento maior sobre o começo, sobre a história em si da nossa religião. Eu aprendi com o meu pai de santo que a única coisa que vou levar daqui desse plano é o conhecimento, isso eu adquiro e ninguém pode tirar de mim, pensando assim vejo que é prazeroso trabalhar com os livros, ver outras pessoas crescendo, evoluindo, não é uma coisa feita somente para você, todos a sua volta vão aprender junto, basta usa-los, e eles estão lá para isso, para serem desbravados, entendidos, enriquecer até nosso vocabulário. Com a tal da internet hoje, ficamos preguiçosos para escrever, usando diminutivos e abreviações em palavras, quando precisarmos escrever mais formalmente se quer iremos lembrar de como é a forma correta, o livro não nos deixa esquecer o quão rica é a nossa língua portuguesa, e ler sobre aquilo que se gosta torna tudo mais fácil.
Fonte: Giras de Umbanda