A revelação sobre a existência das Colônias Espirituais e de sua organização tem sido constante e progressiva. O homem sempre procurou desvendar os mistérios do Além. Para onde vão as almas depois da morte? Tudo se acaba no túmulo? Os mortos ressuscitarão para o Juízo Final? O mundo acabará um dia? E as diversas religiões tentam dar respostas, mas estas não satisfazem os anseios da Humanidade.
Os povos primitivos, em geral, mesmo os mais atrasados, consideravam a morte como uma passagem a outro estágio. Na América, o culto dos mortos era pomposo. Os parentes e amigos acompanhavam o cadáver, colocando-lhe, sobre a sepultura, as coisas de que, achavam, o morto teria mais necessidade no Outro Mundo, como, por exemplo, alimentos, armas, adornos etc, para que o Espírito, segundo acreditavam, não sentisse falta de coisa nenhuma durante a longa viagem. Neste particular, seu rito assemelhava-se ao egípcio.
Os ameríndios tinham grande respeito aos mortos, acreditando que deles dependiam as atribulações ou alegrias da comunidade. Os tupi-guaranis sabiam que os Espíritos feridos em seu amor-próprio podiam trazer à tribo toda sorte de calamidades. No México, os Espíritos são cercados de especiais cuidados entre os tarahumaras. Em Monografia de los Tarahumaras, do ilustrado antropólogo mexicano Carlos Bassauri, há uma referência às suas tradições:
Existe grande temor pelos mortos, pois ainda que não voltem na forma indicada, podem causar malefícios, enfermidades etc., para fazer que seus familiares ou amigos morram também e se reunam a eles. Por esse motivo, geralmente os familiares abandonam a casa em que ocorreu a morte e, em certas ocasiões, até a destroem.
Quando morre um índio, apresenta-se o cueruame (médico ou feiticeiro) e dirige a palavra “ao Espírito, recomendando-lhe que siga, tranquilamente, seu caminho e não volte a incomodar os que ainda permanecem na Terra, prometendo-lhe que o vão prover de tudo quanto é necessário para a viagem ao céu”.
Em conclusão, os romanos, os chineses, os gregos, os sabinos, os quíchuas, os aymaras, todos os povos da Antiguidade, rendiam culto aos seus mortos. E, portanto, a crença na imortalidade da alma e na existência de um Mundo Espiritual é uma ideia universal.
1 – Os Egípcios e Suas Ideias Sobre Uma Outra Vida
A crença na sobrevivência do Espírito e no Mundo Espiritual desempenhou importante papel na cultura dos egípcios. As ideias deste povo sobre a vida após a morte atingiram seu completo desenvolvimento no período final do Médio Império (2.100 -1.788 a.C.) antes que a corrupção do clero e a superstição levassem a religião egípcia à degradação.
A concepção dos egípcios sobre a vida além-túmulo passou por diversas fases, até atingir seu nível mais elevado. A princípio, pensava-se que o morto continuasse sua existência na tumba e, para assegurar-lhe a imortalidade, o corpo tinha de contar com uma provisão de alimentos e de outras coisas essenciais à vida. Homens ricos deixavam largas doações aos sacerdotes, a fim de que estes se encarregassem de fornecer sustento às múmias, enquanto durassem esses fundos.
Com o amadurecimento da Teologia, foi adotada uma concepção menos ingênua da vida extraterrena. Acreditava-se, então, que os mortos deveriam comparecer diante de Osíris(deus dos egípcios, dispensador da imortalidade e juiz dos mortos) e serem julgados de acordo com suas ações na Terra. O processo desse julgamento compreenderia três estágios. No primeiro, exigia-se que o morto declarasse que era inocente de 42 pecados, entre os quais, do homicídio, do furto, da mentira, da cobiça, do adultério, da blasfêmia, da ira, do orgulho e da desonestidade em transações comerciais.
Após desonerar-se destes pecados, o morto, como segundo estágio, deveria enumerar suas virtudes: que dera pão aos famintos, água aos sedentos, vestira os despidos e dera condução a quem não possuía barco. No terceiro e último estágio, o coração do réu era colocado numa balança em face de uma pena, símbolo da verdade, para examinar a exatidão do que afirmara, pois, de acordo com a concepção egípcia, o coração representava a consciência, que denunciaria o falso testemunho.
Assim, todos os mortos que passassem por essas provas seriam encaminhados a um reino celestial de gozos físicos e prazeres simples. Aí, em regiões alagadiças, cheias de lótus e nenúfares, caçariam gansos selvagens e os abateriam com interminável sucesso. Ou, então, construiriam casas no meio de pomares com frutos deliciosos, em safras sempre abundantes. Navegariam em lagos repletos de lírios e se banhariam em lagoas de água brilhante.
Encontrariam, também, florestas habitadas por pássaros canoros e, por toda parte, criaturas gentis. Por outro lado, os infelizes cujos corações revelassem vidas viciosas eram condenados à fome e à sede perpétuas num lugar escuro, para sempre privados da gloriosa luz de Re (deus dos vivos, defensor do bem e do mundo).
2 – Zoroastro – O Fundador do Zoroastrismo
O Zoroastrismo, religião dos persas fundada por Zoroastro(é uma corruptela grega do nome persa Zarathrusta), cujas raízes remontam ao século XV a. C., esboçou uma noção vaga da vida além-túmulo, deturpada pelas ideias de ressurreição, juízo final e fim de mundo.
Pregava a imortalidade da alma, mas dizia, erroneamente, que, no fim do mundo, os mortos se ergueriam das tumbas para serem julgados, segundo seus merecimentos. Os justos entrariam no gozo imediato da bem-aventurança, enquanto os maus seriam lançados às chamas do inferno; porém, no fim, todos se salvariam, pois o inferno persa não durava para sempre.
O Zoroastrismo era uma religião ética. Paradoxalmente à ideia mística de predestinação, de que alguns foram eleitos desde o começo dos tempos para serem salvos, em sua essência permanecia a convicção de que o Homem possuía o livre-arbítrio, de que era livre para praticar atos bons ou maus. De acordo com a sua conduta na Terra, seria recompensado ou punido na vida futura.
A religião zoroástrica condenava o orgulho, a gula, a indolência, a cobiça, a ira, a luxúria, o adultério, o aborto, a calúnia, a dissipação, o ascetismo, o acúmulo de riqueza e a prática da agiotagem com alguém da mesma religião.
O Zoroastrismo tem significado especial por ser, talvez, a primeira religião revelada no mundo ocidental. O seu preceito áureo consistia no seguinte: Só é bom aquele que não faz a outro o que não for bom para si mesmo.
Apesar de todas as suas falhas, o Zoroastrismo preparou o Homem para o Cristianismo através, principalmente, de seus conceitos da outra vida, do conflito entre o Bem e o Mal e outros mais.
3 – Sócrates e Platão – Precursores do Cristianismo e do Espiritismo
Sócrates nasceu em Atenas, em 469 a.C., de família humilde, sendo seu pai um escultor e sua mãe, uma parteira. Tornou-se filósofo por sua própria conta e logo arregimentou um grande número de admiradores, entre os quais se incluía o jovem aristocrata Platão.
Sócrates nada escreveu. O que sabemos de seus ensinamentos devemos ao seu mais famoso discípulo: – Platão.
Platão nasceu em Atenas, em 427 a.C., filho de pais nobres. Seu verdadeiro nome era Arístócles, sendo Platão um apelido dado, segundo se supõe, por um dos seus mestres, por causa dos seus ombros largos. Juntou-se ao círculo de Sócrates quando tinha vinte anos de idade e dele só se afastou após a trágica morte do mestre.
Platão desenvolveu a filosofia das ideias originárias da Filosofia Socrática, concluindo (. . .) que a relatividade e a mudança constante são características do mundo das coisas físicas, do mundo que percebemos com nossos sentidos. Negava, porém, que esse mundo constituísse todo o Universo. Há um reino mais alto e espiritual, composto de formas eternas ou ideias, que só a mente pode conceber. Não são, porém, meras abstrações criadas pelo Homem, mas sim entes espirituais.
Cada uma delas é o arquétipo ou modelo de certa classe especial de objetos ou de relações entre objetos da Terra. Há, porém, ideias de homem, de árvore, de forma, de tamanho, cor, proporção, de beleza e justiça. A mais alta de todas é a Ideia do Bem, que é a causa ativa e a finalidade orientadora de todo o Universo. As coisas que percebemos por meio de nossos sentidos são apenas cópias imperfeitas das realidades supremas – as Ideias (História da Civilização Ocidental, de Edward McNall Burns).
Assim como acreditavam nos entes espirituais, Sócrates e Platão propalavam a existência de um Mundo Invisível, em que os desencarnados descansavam nos intervalos das encarnações, após o estado natural de perturbação por que passavam. Eis, em resumo, a sua doutrina:
Após a nossa morte, o gênio (daimon, dêmon)(nome dado antigamente aos nossos Espíritos mentores. Não tinha o mesmo significado de hoje) que nos havia sido designado durante a vida nos leva a um lugar onde se reúnem todos que devem ser conduzidos ao Hades (Na mitologia grega, deus do reino dos mortos, os Infernos. Frequentemente designado com o cognome de Plutão pelos latinos), para o julgamento. As almas, depois de permanecerem no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida, por numerosos e longos períodos (O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec)
Segundo Sócrates, as pessoas que viveram na Terra, encontram-se depois da morte e se reconhecem. Por haverem professado esses princípios, Sócrates e Platão foram ridicularizados pela sociedade da época da mesma forma como o foram os médiuns e espíritas.
Sócrates, além de perseguido, foi acusado de impiedade e condenado a beber cicuta.
4 – Jesus – O Cristo
Jesus de Nazaré, nascido numa cidadezinha da Judéia e executado aos 33 anos de idade, durante o reinado de Tibério, pregou, com eloquência, em defesa dos pobres e oprimidos, denunciou a impostura e a cobiça e proclamou a imortalidade da alma e a reencarnação. Com ele, teve início a Era Cristã. Sua missão durou pouco tempo, cerca de três anos; entretanto a força de seus ensinamentos teve tal repercussão que abalou o Império Romano.
Jesus, o Cristo, médium de Deus, revelou que o Universo compreende as estâncias de socorro onde as almas que ainda têm a expiar adquirem novas forças e repousam das fadigas de cada encarnação. E ele nos disse: Há muitas moradas na casa de meu pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito; pois vou preparar o lugar.
Logo após a morte de Jesus, seus discípulos desanimaram, julgando que estivesse tudo acabado. Esses sentimentos, porém, não tardaram a renascer. Recobraram a coragem e saíram a pregar a palavra do Mestre que, posteriormente, foi escrita nos diversos Evangelhos, dos quais apenas quatro foram insertos no Novo Testamento após sofrerem profundas alterações. Em conclusão, os ensinamentos básicos se resumiram nos seguintes:
1° – A fraternidade dos homens sob um Deus Pai.
2°- – Seu preceito áureo: assim como quereis que vos façam os homens, assim fazei vós a eles.
3° – O perdão e o amor dos inimigos.
4° – A condenação da hipocrisia e da cobiça.
5° – A oposição ao cerimonialismo como essência da religião.
6° – A imortalidade da alma.
7° – A existência de uma vida futura.
8° – A reencarnação.
Desde que Jesus deu por encerrada sua missão na Terra até nossos dias, em diversas épocas, em diversos locais e através de diversos médiuns, numerosas mensagens dos Espíritos são transmitidas com informações contínuas e progressivas, sobre a vida espiritual, ratificando e ampliando o que Jesus dissera a seus discípulos. Além disso, os Mensageiros do Espaço têm-se empenhado em nos instruir de maneira mais simples e objetiva, a fim de que se desfaça o aspecto místico em que são envolvidas as revelações oriundas do Plano Espiritual.
5 – Dante Alighieri – O Visionário
Dante Alighieri, italiano reencarnado em 1265 e desencarnado em 1321, afirmou que visitara os Mundos Invisíveis, e registrou suas experiências em um poema épico intitulado Divina Comédia. Na verdade, ele fantasiou um pouco as suas revelações, mas, também, há muita coerência em determinados aspectos.
Dos seus desdobramentos ao Mundo Espiritual e dos fatos que afirma ter presenciado, Dante Alighieri descreveu o Mundo Invisível de acordo com as ideias teologais da Idade Média, certamente influenciado pelos preconceitos da época e temeroso das pressões que sofreria por contrariar os dogmas católicos. Dessa forma, dividiu o Além-Túmulo em Paraíso, Purgatório e Inferno, querendo significar as faixas vibratórias mais ou menos densas em que se encontram as Colónias Espirituais.
Léon Denis, no seu livro No Invisível, afirma que Dante Alighieri foi um médium incomparável e a Divina Comédia, sua famosa obra, uma peregrinação através dos Mundos Invisíveis. Esclarece Léon Denis que Ozanã, autor católico que analisou a obra de Dante Alighieri, reconheceu que o seu plano seria todo calcado nas grandes linhas traçadas pelos iniciados nos mistérios antigos, cujo princípio era a comunhão com o alto.
6 – Emmanuel Swedenborg – Um dos Teósofos do Culto ao Oculto
Passa o tempo e, no século XVIII, outras revelações são feitas por intermédio de um sueco, considerado o homem mais culto de sua época: Emmanuel Swedenborg, encarnado em Estocolmo (1688) e desencarnado em Londres (1772). Destacou-se em todas as ciências, sobretudo na Teologia, na Mecânica, na Física e na Metalurgia. Os reis o chamavam para os seus Conselhos.
A rainha Ulrica o fez nobre e ele ocupou os mais elevados postos, com distinção, até 1743, época em que teve a primeira de inúmeras revelações espirituais. Médium vidente desde a infância, psicógrafo e intuitivo, a partir de então, teve suas visões do Mundo dos Espíritos ampliadas. Pelo conteúdo dos 29 volumes que escreveu é considerado um dos precursores do Espiritismo.
Muitos estudiosos, atualmente, reconhecem que os conceitos swedenborguianos estavam séculos à frente de sua época. Sua extensa obra exigiu tradutores hábeis em virtude de sua erudição. Com a idade de 22 anos, Swedenborg publicou um volume de versos latinos. Filosofia, Teologia e Literatura atraíram-lhe tanto quanto a Engenharia e as Ciências Naturais. E sabido que a sua mente ultrapassou a capacidade daquela sociedade que foi sua contemporânea e, ao mesmo tempo em que era altamente respeitado por sua cultura, a lentidão própria dos órgãos do governo, na adoção de suas idéias, deve tê-lo sufocado.
A sua vida adulta pode ser dividida em duas etapas: a primeira foi devotada aos estudos científicos, com forte orientação para a Medicina e a Fisiologia; a segunda, a uma investigação em busca de conhecimentos sobre a alma humana relacionada com Deus e o Universo numa estrutura de idéias cristãs.
As pesquisas espirituais que realizou foram de tal importância que seus resultados provocaram a irritação do filósofo alemão Immanuel Kant. Este, por tentar desenvolver um trabalho semelhante ao de Swedenborg e não o conseguir com a mesma objetividade, publicou um livro em que tece comentários desdenhosos e zombeteiros sobre o próprio Swedenborg e o conteúdo de sua obra. Mais tarde, reconhecendo o valor de Swedenborg, Kant, praticamente, retratou-se, ministrando uma série de aulas, provavelmente no ano de 1774, que continha, em síntese, os conceitos de Swedenborg sobre a alma humana e o Mundo Espiritual.
Swedenborg foi o primeiro a complementar o ensino de Jesus, com certa objetividade, informando-nos… (. . .) que o Universo se compõe de esferas diferentes, com vários graus de luminosidade e felicidade, e que essas esferas nos servirão de morada depois da morte na Terra, de conformidade com as condições espirituais que aqui tenhamos conseguido. Nesses mundos, seremos julgados, automaticamente, por uma Lei espiritual, de acordo com o que houvermos realizado na Terra.
E ele declara textualmente:- Pelas coisas que vi durante tantos anos, posso fazer as declarações seguintes: no Mundo Espiritual há Terras como no Mundo Natural (denominação referente ao mundo material), há Planícies e Vales, Montanhas e Colinas, e também Fontes e Rios; há Paraísos, Jardins, Bosques e Florestas; há Cidades, e nestas cidades Palácios e Casas; há Escritos e Livros; há Funções e Comércio; há Ouro, Prata e Pedras Preciosas; em uma palavra, há, tanto em geral como em particular, todas as coisas que estão no mundo natural, mas estas cousas nos Céus são imensamente mais perfeitas. (A Verdadeira Religião Cristã, de Swedenborg).
E preciso que se saiba que o Mundo Espiritual na aparência externa é absolutamente semelhante ao Mundo natural; aí aparecem terras, montanhas, colinas, vales, planícies, campos, lagos, rios, fontes, como no Mundo natural; assim todas as cousas que são do Reino mineral; aí aparecem também paraísos, jardins, bosques, florestas, nas quais há árvores e arbustos de todo o gênero com frutos e sementes, e também plantas, flores, ervas e grama; assim todas as cousas que são do Reino vegetal; aí aparecem animais voláteis e de todo o gênero; assim todas as cousas que são do Reino animal; (. . .) (Sabedoria Angélica, de Swedenborg)
Como se vê, Swedenborg registra informações sobre as Colônias Espirituais em vários trechos das suas obras; seria, até, cansativo reproduzi-las totalmente. Entretanto, só por essas transcrições, tem-se uma idéia de quanto o médium sueco desvendou para nós do Mundo dos Espíritos, mesmo reconhecendo a sua tendência mística. Os Espíritos continuaram a transmitir uma série de fatos sobre o assunto. Nos séculas XIX e XX, mensagens do mesmo teor se multiplicaram.
7 – Allan Kardec – o Codificador da Doutrina Espírita
Foi a 3 de outubro de 1804 que nasceu, numa antiga família de Lião, na França, Denizard Hippolyte Léon Rivail. Discípulo de Pestalozzi desde criança, veio, mais tarde, a seguir as pegadas do mestre. Publicou numerosos livros didáticos, apresentou planos, métodos e projetos referentes à reforma do ensino francês. Dedicou-se ao magnetismo por vários anos até conhecer os fenômenos das mesas girantes que o levaram a realizar a sua missão de Codificador da Doutrina Espírita.
Allan Kardec desencarnou a 31 de março de 1869. A 18 de abril de 1857, Allan Kardec lançou O Livro dos Espíritos, cujo capítulo VI, do Livro Segundo (perguntas 223 a 236), é dedicado ao esclarecimento do que são espíritos errantes, erraticidade e mundos transitórios. Colaboraram nessas informações os Espíritos Mozart, Chopin e o chamado em vida Santo Agostinho, as quais são em síntese:
— no intervalo das encarnações, a alma se torna um Espírito errante; só não se tornam errantes os Espíritos puros, por se encontrarem num estado definitivo;
— há Espíritos errantes dos mais variados graus;
— enquanto errantes, os Espíritos progridem, observam os lugares que percorrem, instruem-se, analisam os erros e acertos do passado e se preparam para novas experiências na existência corpórea;
— a situação do Espírito errante no Além será determinada por sua vida no Aquém, e ele pertencerá a um mundo do mesmo grau de sua elevação, embora lhe sejam permitidas visitas a mundo superiores como modo de aprendizagem;
— é nas Colônias Espirituais, espécies de acampamento, que o Espírito errante habita nos intervalos das encarnações a fim de repousar e aprender.
Na Revista Espírita de agosto de 1858, Allan Kardec trata sobre as habitações em Júpiter, num mundo invisível aos olhos humanos evidentemente, onde se dizia encontrar o Espírito Mozart. Sobre o assunto, declara o Codificador: Para certas pessoas convencidas da existência do Espírito – e aqui não cogito de outras – deve ser motivo de espanto que, como nós, os Espíritos tenham suas habitações e as suas cidades. Não me pouparam críticas; “Casas de Espíritos em Júpiter? . . . Que piada ! . . .”
Ressalvando não ser a arquitetura do Mundo Espiritual a principal preocupação de seus estudos e objeto principal da Doutrina Espírita, também não se é de desprezar o fenômeno de sua reprodução pelo jovem médium desenhista Victorien Sardou (dramaturgo francês – Paris 1831, colocou a engenhosidade técnica a serviço de tendências novas, da comédia burguesa ao drama histórico), que ele considera um distinto e honrado escritor.
Victorien Sardou, médium psicógrafo que trabalhou com Allan Kardec, foi instrumento na elaboração de lindos quadros de autoria de diversos Espíritos. Foi membro da Academia Francesa e um dos mais fecundos autores teatrais franceses. Afirmava Victorien Sardou que, como médium, recebeu mensagens de Mozart e Pallissy e que lhe foi dito que (. . .) os habitantes de Júpiter têm seus lares comuns e suas famílias, grupos harmoniosos de Espíritos simpáticos, unidos no triunfo, após o terem sido na luta. Daí as moradas tão espaçosas que merecem exatamente o nome de “palácios”. Ainda como nós, os Espíritos têm suas festas, suas cerimônias, suas reuniões públicas; daí certos edifícios destinados especialmente a essas finalidades.
Fala ele de animais que designa de seres bizarros. Tais criaturas ocupam os níveis inferiores da escala evolutiva. De acordo com informações de Pallissy, as famílias espíritas são sempre acompanhadas por cortejo de animais. Um reino vegetal bem exótico também está presente nos desenhos recebidos por Victorien Sardou que foram reproduzidos na Revista Espírita, de Allan Kardec. Em palestras familiares, Bernard Pallissy, o célebre oleiro do século XVII, descreveu a vida em outros mundos, principalmente no planeta Júpiter: seus moradores, estado moral etc. E ainda que o desenho seja fruto de uma fantasia, o simples fato de sua execução por alguém que não sabia desenhar, já seria, segundo Allan Kardec, um fenômeno digno de atenção.
Em O Céu e o Inferno, um dos livros da Codificação publicado por Allan Kardec em 1865, os Espíritos comunicantes ratificam o que foi dito a respeito da situação do Espírito desencarnado no Além. Este é o livro das esperanças e consolações que tem por objetivo desfazer a idéia de Céu, Inferno e Purgatório, implantada na mente do Homem pelas religiões dogmáticas.
O temor da morte é um sentimento natural, consequência do instinto de conservação que a Sabedoria Divina concedeu a todas as criaturas. É muito raro que alguém esteja preparado para morrer. A Humanidade, principalmente a Ocidental, ouve falar da morte como um fato aterrador, através de expressões como: a morte ceifou-lhe a existência, findou-se uma vida no verdor dos anos, a morte arrebatou-lhe um ente querido, dando uma idéia de que a morte é um acontecimento terrível, como se os indivíduos fossem retirados do convívio dos semelhantes e reduzidos a nada.
Diante destes condicionamentos a respeito do morrer, o desespero, muitas vezes, toma conta dos entes que ficaram na Terra, e a ignorância não os deixa ver que houve, apenas, uma separação temporária. Entretanto, em muitos casos, esse é um sentimento necessário. De acordo com os ensinos dos Espíritos…
À proporção que o Homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; uma vez esclarecida a sua missão terrena, aguarda-lhe o fim, calma, resignada e serenamente. (O Céu e o Inferno – cap. II, Allan Kardec) Os Espíritos desencarnados mais esclarecidos, então, assumem a tarefa de orientar encarnados e recém-desencarnados. Temos, como exemplo, a mensagem da viúva Foulon, ex-senhora Wollis, falecida em Antibes a 3 de fevereiro de 1865, recebida mediunicamente cinco dias após o féretro:
-P. Descreva-nos agora a transição, o despertar e as primeiras impressões que aí recebeu.
-R. Eu sofri, mas o Espírito sobrepujou o sofrimento material que o desprendimento em si lhe acordava. Depois do último alento, encontrei-me como que em desmaio, sem consciência do meu estado, não pensando em coisa nenhuma, numa vaga sonolência que não era bem sono do corpo nem o despertar da alma. Assim fiquei longo tempo, e depois, como se saísse de prolongada síncope, lentamente despertei no meio de irmãos que não conhecia. Eles prodigalizavam-me cuidados e carícias, ao mesmo tempo que me mostravam no Espaço um ponto semelhante a uma estrela, dizendo: “E para ali que vai conosco, pois já não pertence mais à Terra.”
Então recordei-me; e apoiada neles, como um grupo gracioso que se lança para as esferas na certeza de aí achar a felicidade, subimos, subimos, à proporção que a estrela se engrandecia (…). Era um mundo feliz, um centro superior no qual a sua amiga vai repousar. Quando digo repouso, quero referir-me às fadigas corporais que amarguei, às contingência da vida terrestre, não à indolência do Espírito, pois que este tem na atividade uma fonte de gozos.(O Céu e o Inferno, de Allan Kardec).
Outra mensagem esclarecedora, inserida na mesma obra e que dá uma visão ampla do Mundo Espiritual, é a da condessa Paula, dada originariamente em alemão a um parente, doze anos após a sua desencarnação. Bela, jovem, rica, de estirpe ilustre e possuidora de boas qualidades morais e intelectuais, desencarnou aos 36 anos de idade, em 1851. Da sua comunicação constam os seguintes tópicos:
Tem razão, meu amigo, em pensar que eu sou feliz. Assim é efetivamente e mais ainda do que a linguagem pode exprimir, conquanto longe do seu último grau. (…) Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas a estas assembléias de Espíritos resplandescentes de brilho que a vossa vista não suportaria, brilho que é o apanágio da sua pureza? Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris?
(…) E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d ‘alma! As ocupações, ainda que isentas de fadiga, se revestem de perspectivas e emoções variáveis e incessantes, pêlos mil incidentes que lhes filiam. Tem cada um sua missão a cumprir, seus protegidos a velar, amigos terrenos a visitar, mecanismos na Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar, e é o vaivém não de uma rua a outra, porém, de um a outro mundo; reunindo-nos, separando-nos para novamente nos juntarmos; e, reunidos em certo ponto, comunicamo-nos o trabalho realizado, felicitando-nos pelos êxitos obtidos; ajustamo-nos, mutuamente nos assistimos nos casos difíceis.
Finalmente, asseguro que ninguém tem tempo para enfadar-se, por um segundo que seja. Estas mensagens, embora enviadas por Espíritos diferentes, completam-se, sendo uma continuação da outra. Enquanto a primeira revela o momento da morte até o socorrro recebido, a segunda trata de um estádio mais elevado em que o Espírito já participou, ativamente, de tarefas nas Comunidades Espirituais.
Assim, Allan Kardec, hábil pesquisador, preocupou-se, também, com a vida de relação no Além-Túmulo. Percebeu que as informações dos Espíritos viúva Foulon e condessa Paula continham importantes notícias para a humanidade encarnada e as publicou como complementação do que já houveram dito os Espíritos em O Livro dos Espíritos, a respeito dos Mundos Transitórios.
Enfim, com Allan Kardec, é retirado, totalmente, o véu do misticismo que envolvia tão polêmico assunto. A existência do Mundo Espiritual em seus diversos aspectos é revelada com toda objetividade.
8 – Obras Complementares do Espiritismo
Obras posteriores continuaram a revelar a vida além-túmulo. É valiosíssima a contribuição de sábios e cientistas que se interessaram pelo Espiritismo e começaram a pesquisar o assunto. Através da observação direta ou coleta de informações de diversos médiuns e pesquisadores, publicaram trabalhos em que Espíritos transmitem conceitos e princípios sobre a vida espiritual, quase com as mesmas palavras, embora por diferentes intermediários.
Antes de Allan Kardec publicar O Céu e o Inferno, obra em que se inserem alguns episódios vivenciados por Espíritos errantes, mensagens do mesmo teor já se encontravam em circulação pela Europa e Estados Unidos. A obra intitulada Letters and Tracts on Spiritualism, de autoria do juiz John Worth Edmonds, um dos mais influentes espiritualistas norte-americanos, condensava artigos e monografias publicadas de 1854 a 1874 a respeito da vida após a morte. Atualmente, a bibliografia que trata desse assunto é vastíssima e, provavelmente, muito ainda pode ser dito.
Diversos aspectos sobre a vida no Mundo Espiritual são descritos pelo Espírito André Luiz que, por esse motivo, ficou conhecido, no Movimento Espírita Brasileiro, como O Repórter do Espaço. Através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, ele nos legou uma série de publicações que teve início com a obra Nosso Lar, e é o trabalho mais abrangente e minucioso de informações sobre o funcionamento das Colônias Espirituais.
André Luiz relata a sua trajetória no Mundo Espiritual, a partir da desencarnação, em etapas graduais de aprendizagem, baseado nas próprias experiências e no que afirma ter observado da vida nos Mundos Transitórios. Nosso Lar é, apenas, um exemplo das incontáveis Cidades Espirituais que os Espíritos têm citado em suas mensagens.
De tudo que nos tem sido transmitido pelos mais diferentes Espíritos, conclusões são tiradas a respeito das Colônias Espirituais. Temos, por exemplo, além das obras de Francisco Cândido Xavier, as dos médiuns Yvonne A. Pereira, Divaldo Pereira Franco, Zilda Gama, Elsa Barker, Isaltino Barbosa, George Vale Owen e muitos outros entre brasileiros e estrangeiros.
Apesar de algumas contradições que, porventura, apresentem, geralmente as mesmas idéias e informações se repetem nas comunicações, obedecendo a uma relativa concordância. As pequenas ou grandes diferenças ficam por conta do nível evolutivo e da vivência de cada Espírito comunicante ou da interferência do médium.
Lúcia Loureiro
Fonte: http://www.acasadoespiritismo.com.br